domingo, 19 de julho de 2009

Irmã da Alma

A escritora Lúcia Welt me escreve:


Querida Clevane!
Me emocionou receber o teu lindo comentário às fotos da arca da Alma, e saber que tanto aprecias os poema de minha irmã!
Fico honrada, vindo de tão ilustre poetisa que és, verdadeiro baluarte da poesia de Minas (e que pela Internet se torna do Brasil todo e do Mundo), o pedido de licença para publicares poemas da Alma. ELA ADORARIA! ( e adorará...) Quanto aos meus, é claro que também adorei embora ache que não mereço.
Fiquei linsongeada demais!. Sou uma poetisa intermitente, um tanto novata, de poucos poemas, que fiz quase todos em homenagem à saudosa Alma.
Escolha os poemas que quiser nos blogs da Alma. Estou contente demais com teu amável pedido!
E envio-te estes poemas que fiz para ela, para que publiques o que quiseres, se achar achar que algum vale a pena (fica ao teu critério). E também alguns poemas escrevi para o nosso querido amigo, Claudio Bento, grande poeta do Vale do Jequitinhonha.
Quanto ao Movimento Cultural Abrace, não, não vou participar. Estou sem condições... Infelizmente,acho que ainda não vai ser dessa vez que nos conheceremos pessoalmente. Desejo-te muito sucesso (que sei que terás) na tua apresentação na mostra Mulher, Graal feminino, plural ( A propósito, esse título me lembrou um soneto da Alma ( que verti para o castellano) que também assim (Graal) a ela, mulher, se refere:

Reencontrando o general (de Alma Welt)


Amarrei minha montaria no mourão
Adentrando então a estância estranha.
No peito eu sentia o coração
Pulsando como os palpos de uma aranha

Que aguardasse a si mesma como presa
No centro de uma teia que era o mundo.
E assim eu caminhava muito tesa,
A sentir que o momento era profundo.

Então me vi diante da varanda
Do herdeiro de meu Netto general,
Que tirou o chapéu, como se manda

E mostrando os cabelos cor de nata
Disse: "Voltaste, minha princesa, meu Graal,
Que te espero, há muito, desde el Plata."

(sem data)



Um grande beijo e abraço, querida Clevane,
da tua amiga
Lucia



Manhã orvalhada (de Lucia Welt, para a Alma Welt)

Manhã orvalhada

(Para a amada Alma)


Nesta manhã orvalhada
caminhei pela campina como outrora
quando tudo parecia mais autêntico e vivo
pois a Alma estava entre nós
e eu podia segurar a sua mão ao caminhar.
Ainda ouvi sua respiração arfante
não tanto pelo andadura
como pelas emoções de seu olhar
sobre detalhes da paisagem, da relva e do céu
que me passavam despercebidos.
Senti novamente seu perfume
de mulher jovem inconcebivelmente linda
que só por isso já nos comovia
tanto quanto aos peões
que ao vê-la caminhando paravam seu trabalho
e tiravam o chapéu
ao seu riso cristalino.

Ah! Doce irmã das pradarias, tu eras a alma
que agora nos falta!
Tu, o elo de ligação entre este pampa e nossas vidas
entre a paisagem e nosso alento
que todavia persiste sem teu respiro mais amplo
em teu vôo a um tempo gracioso e sobranceiro,
de branca garça pampiana
guria de cabelos flamejantes, de pele alva
de paraísos suspeitados, ah! cobiçados mesmo...
Esta foi, além de teus poemas
tua prenda maior mas tua desgraça,
pois também os maus te viram
e cobiçaram...
Mas não quero pensar senão em ti, na tua caminhada,
quando rindo de alegria te afastavas de súbito
virando-te para mim
para logo me estenderes as duas mãos para rodopiarmos na campina
por puro prazer de viver.
Ah! Como eras preciosa, meu amor, minha irmã!
Que poema posso eu te escrever
senão evocar-te tal qual eras em tua beleza
cheia de secretos encantos
que no entanto prodigalizavas?
Quanto te desnudavas em tua generosidade,
pois bem sabias que o olhar do povo,
deslumbrado te vigiava, respeitoso contudo,
como não seria com nenhuma outra prenda!
Quem, entre os mortais que te viram nua (e talvez alguns deuses)
não sonhou secretamente ter-te nos braços para sugar-te o hálito divino
e fruir de tua pele de seda de impossível brancura
sob este sol do Pampa, ou mais amiúde sob a lua
e as estrelas peregrinas do teu negrinho padroeiro?
(Ai! Na grande cidade também foste amada,
mas também violada
em tua comovente vulnerabilidade,
criatura exótica perdida no caos.)

Ah! Não poder nunca defender-te,
preservar-te do mal e dos maus,
cobrir teu corpo de ninfa com meu corpo maternal
e nunca mais deixar-te ir-se!...

Caminhei esta manhã na pradaria orvalhada
e por um segundo tu, Alma, tocas-te a minha mão,
senti teu beijo em meus lábios,
o hálito fresco da pradaria,
e soube que continuas por aqui.

E chorei consolada...


(Lucia Welt)
28/05/2008

Cântico para Alma Welt (poema de Lucia Welt)
(Passados seis meses da morte da Alma, eu, Lucia, sua irmã, escrevi este "cântico" para homenageá-la,
e espero não estar sendo pretenciosa ao publicá-lo aqui, entre as obras da grande poetisa).

Um cântico para Alma Welt
(poetisa, irmã, imortal)
por Lucia Welt

A macieira floriu, a tua macieira,
mas foi por ti, desta vez...
Não posso dizer que os pássaros não voaram
cantando na tua pradaria: eles o fizeram por ti!
Por ti, doce Alma deste pampa, as coisas permaneceram
para serem dignas de ti e fiéis para sempre.
Tua cascata ainda chora a visão da tua nudez deslumbrante
sob a água, pálido nenúfar, alabastro puro
ou Carrara milenar.
Teus cabelos flutuando de ruiva medusa
e teus lábios frios no último beijo
do teu perdido irmão...
O ‘‘gaucho” te trouxe desvelada e tão alva,
nos braços pela campina esvoaçante e em susto
para depositar-te na grande mesa na tua vigília nua.
E agora a mesa recende o teu aroma
e divisamos teu formoso corpo no branco das toalhas.
Sei que esta noite virás como todas as noites desde então
para mostrar-me algo que teima em não desvelar-se
ante meus olhos enevoados de chorar por ti.
Sempre me ofuscaste com teu brilho...
perdoa-me pois,irmã, não compreender.
Só posso amar-te, nunca pude mais que isso...
e não estava lá para poupar-te do abraço
da outra branca dama que em tua inocência ansiavas.
Nunca pude defender-te...
eras demasiado sagrada para mim para ousar querer poupar-te
da vida e da morte como bem desejaria.
Pois reinavas e reinas ainda nestas pradarias do teu Pampa
sublimado pelos teus versos imortais.
Pouco precisaste de mim e maior honra me fizeste
(que não merecia) ao te joelhares para beijar-me as mãos
quando te prometi silêncio um dia.
Agora tudo fala e canta por ti, poeta e musa deste Sul,
que já me honravas em demasia em voltar ao mundo como minha irmã.
Como ser poeta para cantar-te como mereces?
Não posso, não alcanço.
Todavia percebo: a Natureza o está fazendo
por mim, por nós, para sempre.

06/06/2007

Mais um poema para Alma Welt (de Lucia Welt)
(Devido à aprovação que senti, dos leitores e amigos sobre
o primeiro poema que escrevi sobre a minha irmã, tomei coragem
e escrevi mais este, que com igual presunção publico
aqui no espaço da grande poetisa, esperando que lá
no Pampa celeste ela aprove ou me perdoe. (Lucia Welt)

_________________________________

Espera-me nas noites, amada irmã de minha alma!
Sei que vagas e irei ao teu encontro...
Quantas vezes, insone como eu, me chamas
para seguir-te na eterna peregrinação
aos locais de tua infância gloriosa!...
O pomar com a tua macieira continua
a esperar o teu abraço e tuas magias,
tuas invocações dos deuses e dos numes.
O jardim de nossa mãe floresce e refloresce
persistente esperando por ti.
Ali levarei nossas crianças
como quando flutuavam em scherzo,
alegres adejando ao teu redor
coroadas de flores e inesquecíveis
em sua inocência e harmonia.
Tu, doce poetisa deste Pampa
agora assombras tristemente o casarão,
eu sei, e não descansas.
Mas descobrirei, irmã , o que te desassossega
e queimarei flores e ervas para aliviar-te.
Diante de tua Ara eu queimarei a erva amarga,
o mate de nossa juventude irradiante
e outras ervas que, secretas, me ensinaste.
E conclamarei teus deuses, os do Walhalla paterno
assim como os numes do pampa Martim Fierro e o Cambará
não esquecendo aquele de tua mais singela devoção:
o Negrinho que te reconduziu um dia ao lar
quando estavas a seguir tuas estrelas.
Elas te esperam, irmã, sim, deves segui-las
mas antes te seguirei eu, até me revelares
o segredo de tua inquietude.
E afastarei a dor de ti, como quando eras guria
e te acolhia em meus braços em meio à tempestade
no meu leito, que próximo buscavas.

A manhã os pássaros levantarão seu vôo migratório
e poderás seguir com eles rumo austral
até as planícies dos castelhanos
onde brilham as estrelas dos amores
que em vida cultivaste em beleza.
Estarei aqui, amada irmã de minha alma
esperando até o fim o teu retorno,
luz que eras e serás da pradaria
que iluminaste com tua poesia incandescente,
forte e terna como a dos grandes
que, veríssimos, no Pampa amado peregrinam.
Ah! saiba, ele ainda espera por ti, por tua beleza
e tuas cavalgadas nuas que os peões ainda julgam avistar,
eufóricos e assustados correndo ao casarão nos avisar:
"Eu vi a Alma, ela está viva... e me acenou!”

Que podemos dizer, se já sabemos
que em verdade ainda vagas no teu Pampa
que não abandonarás nunca, pois és seu coração
e sua poesia, ó Alma deste Mundo?!

Espera-me nas noites, que irei ao teu encontro
Para juntas sussurrarmos segredos de mulheres
conscientes de nossa beleza invencível
num mundo que afunda e clama
como este casarão que naufragado aderna
no mar da pampiana solidão, irmã, do teu desterro...




18/07/2007


AO POETA DO VALE ENCANTADO
(Para Claudio Bento, poeta do Jequitinhonha)

Desde este longínquo sul te envio o pensamento
que atravessa o meu pampa rumo norte
para cortando planícies, montes e chapadas,
atrás das montanhas de tua Minas, encontrar-te no teu vale encantado.
Tu, poeta do rio sinuoso, dos canoeiros, pescadores
e suas praias ribeirinhas de brancas areias,
tu, poeta das canções dos quilombolas
que ecoam de teu sangue ancestral, quente
desde África e seus leões, seus orixás,
tu, poeta bento, que tomaste o cálice
do sangue de tua terra mineira e que te soube tão doce
que o cantaste com leveza e gratidão; que te encantas
com teu vale e o levas encantado, do virtual teclado
ao quatro ventos da Pátria, com que ternura e força
evocas tua infância no rincão que tornas universal na nossa mente!
Vai, Bento poeta, com teu estandarte da terra
em "negro mastro" colorindo a noite e seu lácteo rio
e trazendo-nos sonhos das Minas, seu ouro,
seu cortejo de lendas e mistérios, suas inconfidências
sussurradas entre atentas paredes traidoras...
Diante de nós desfilam os encantos das Gerais
que um dia celebrarão o seu poeta do vale entre os maiores.

Vai, poeta Bento, do festivo vale para o belo horizonte
e desde lá para estas pastagens onde corre o frio e sibilante minuano
e onde nossa Alma galopa soluçando ou cantando
consoante as estações e seus pendores.
Escreve, também o pampa receberá teus versos, tu que descobrindo a Alma
te tornaste seu parceiro de um pastoreio de estrelas,
Lança teus versos, poeta, que unindo o verde vale
do teu coração ao pampa do meu, me fizeste grande honra
e tua Musa surpresa e agradecida...

Lucia Welt
01/08/2007
Pelas Sendas do Vale Encantado (de Lucia Welt
Pelas Sendas do Vale Encantado (de Lucia Welt)
(Para Claudio Bento, poeta do Jequitinhonha)


Caminha o poeta pelas sendas
do Vale Encantado ora seco.
Seu olhar perscruta e confere
cada talo de capim cada grão de poeira
do solo que lenta e inexoravelmente
vira areia.

Caminha o poeta com seus sonhos
e sua dor por este chão
o mesmo de sua infância ideal
ora a gritar-lhe em agonia.

Ele veio às terras apinhadas
à grande cidade cheia de promessas
ainda nos campos dos Gerais
onde instalou seu instrumento
pouco agrário
lançando exasperadas sementes.

O poeta chora o seu vale
e com ele olhos distantes e estranhos
choram
os talos secos
o chão rachado
que lentos e inexoravelmente
viram a areia
de uma ampulheta viva e dolorosa.

O Vale Encantado chora e canta.
Ainda insiste em cantar este Vale
pelos seus poetas
que atônitos percorrem
suas sendas ora secas e tristes.

O poeta caminha.

(Lucia Welt)

22/11/2007


O Poeta caminha no Vale do Jequitinhonha (poema de Lucia Welt)


Acompanho, poeta, teus passos, tuas andanças nas Gerais
como o Inconfidente tramando a Liberdade
e me orgulho de ti.

Acompanho tuas confabulações, teus arrazoados
tuas contas de poeta
pouco práticas
que fazem os contadores e os burocratas sorrirem
abanando as cabeças
e me orgulho de ti

Acompanho daqui, tão de longe,
do fundo do meu Pampa
tuas peregrinações
tuas incansáveis andanças
no Vale dos teus sonhos
dos sonhos de tua infância imperecível
e me orgulho de ti

Acompanho tuas pausas, teus silêncios
mas também tuas risadas
de indizível prazer
grande lúdico que és e sábio
em teu hedonismo quilombola
e me orgulho de ti

Acompanho daqui da extensa pradaria ondulada,
teu caminhar pelos vales
entre montanhas
pelas várzeas dos sinuosos rios
dos canoeiros celebrados
de teus poemas reais
e me orgulho de ti

Acompanho tuas visitas
aos artesãos humildes, aos poteiros
às rendeiras
aos violeiros
aos santeiros a quem encomendas
um São Jorge Ogun
vistoso
como os numes do povo sabem ser
e me orgulho de ti

Agora vai, poeta,
à tua aldeia mágica
do Encantado Vale
em visita à tua "Mama-áfrica"
no seu dia
e leva a ela
o meu orgulho de ti

Amanhã os albores te sorrirão
porque caminhaste sorrindo
e levaste a palavra da Poesia
como da Liberdade mesma
por entre as vilas humildes
da tua sofrida terra
que te ensinou a sorrir

e me orgulho de ti...

(Lucia Welt)


Minha respostaaos versos da Florbela Espanca
enviados dedicados a mim pelo poeta português
ANTONIO ANTUNES GRAÇA LOPES ANTUNES



Obrigada, querido Antonio

Pelos lindos versos da Florbela
Que, parece, a mim me dedicaste,
Que não sendo flor, e menos bela
Disse ao espelho, um dia: "me enganaste!"
"Ainda não passou minha primavera
E já minha ilusão tu retiraste!"
"Dá-me, pois, os versos que consolam,
E a louca ilusão de eternidade
Com que os poetas constroem na calada,
Seus castelos de cartas e saudade!
Não me deixa jazer tão desolada
Para cumprir raso destino ou obscuro
Que, pena em punho, não serei alma penada
Fazendo dos papéis um vão monturo!"
Permanece, pois, Antonio, assim fiel
Na tua amizade sem fronteiras
Que parece degustar-me pela beira
Como fora eu pote de mel.
Pois sendo eu mestiça e brasileira
(de alemão e açoriana tenho o sangue)
Mas criada da Pampa na fronteira
Fico em vaidade atolada como em mangue
Diante de versos como flor, dessa maneira...

Lucia Welt



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Responder |clevane pessoa para Lúcia
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Lucia:
também jamais esqueci tua pronta adesão, quando pedi por Melissa Patiño!E caludio bento também é um poeta muito apreciado por mim , embora pouquíssimo tenhamos nos visto-mas a obra fala pelo Poeta e ele e eu trocamos e-mails e livros via Correio.
Quero mandar-te um de meus livros-envia-me teu endereço.
Também gostaria de entrevistar-te, via Internet, sobre a obra de Alma e um pouco a teu pp respeito.Pode ser?
Obrigada por permitires que capte os versos dela-abri um novo blog, chamado, "poesia em Toda Parte, onde caberá perfeitamente a foto do baú-a arca de poemas, sonetos, manuscritos, que linda!!
Eu represento o MC aBrace aqui em BH.Quem sabe escreves para Nina e poderá estar pelo menos em algum momento?Moras em PoA?
Um grande abaraço e sigamos!
Meu abraço cordifraternal!
Grata por teus poemas!
Clevane

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