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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Ensaio de Helenice Rocha Reis -Clevane,Uma Flor Lírica nas Montanhas
Entrevicto Helenice, clicadas por Marco LLobu, poeta, fotógrafo e presidente da Rede Cultural Catitu, de belo Horizonte..
Helenice, em cua casa, enrevistada por Llobus e clicada por mim
A mestra em Letras Helenice Reis(*), uma das selecionadas para fazerem parte do livro-album POIETISAS,comete uma delicadeza em seu interesse de analisar meu estilo,a partir de poemas meus publicados no volume I da antologia "Poetas del Mundo em Poesias": escreve e envia-me um ensaio onde pretende analisar meu lirismo.Estes poemas,todavia, são bem antigos e não refletem minha verve atual.No entanto, enquanto psicpologa, pareceu-me interessante ler essa incursão pelo meu inconconsciente ali projetado e as analogia feitas pel auto.Agradeço a Helenice, ela própria poeta , artista plástica e também musicista, tanto interesse or minha pessoa.Neste ano que finda, para minha agravável surpresa, também recebi dela uma composição musical a que denomina "Clevaneios", título por certo calcado em Devaneios.
O poema "Perplexidades" saiu no cito livro, com o título do segundo , escrito em espanhol, (A Menudo), como se fosse seu último verso, que , na verdade é apenas a pergunta "para Que Guerrear"-por isso retirei-o ("A Menudo", deste, o primeiro versos "La Semilllas del Sueño", tem "Las Semillas qual um título)
Ensaio de Helenice Rocha Reis (*)
Clevane,Uma Flor Lírica nas Montanhas
"Pensando na obra de arte,e muito em especial na poesia como uma forma de existir não apropriável pelas lógicas de mundo capitalista em face da sua impossível reprodutibilidade,debruço-me aqui sobre a lírica de uma jovem poetisa atuante em Belo Horizonte,Clevane Pessoa,no sentido de pensar esta difícil relação entre poesia,história e cultura.Pensemos na Lírica como algo da poesia que subsiste como indefinível perfume que não poderíamos sentir nas farmácias,nas lojas,ou mesmo nas ruas.Vamos supor aquela parcela residual da linguagem que aponta para o resgate dos sentidos que cada um esconde segundo os desígnios do próprio desejo e mesmo assim,conducente da universalidade que o gozo e a dor de ser humano hodiernamente traz.
A lírica feminina que,mesmo com a intangível delicadeza da Lírica de todos os tempos,traduz os dilemas da humanidade neste milênio,pela dicção de uma mulher.Subvertendo espaços de dicção e dramas existenciais antes possíveis apenas para lugares pré-determinados de enunciação:lírica masculina,discursividade de gênero feminino,guetos culturais....a lírica contemporânea é um universo de diversidade acoplada em um sujeito fragmentado em vários outros.Sujeito este multifacetado por várias alteridades,transitando entre ser único como linguagem irredutível,auto-referencial no sentido mesmo do formalismo e estilhaçado como sujeito de múltiplas enunciações.Assim entro na Lírica de Clevane,jovem poetisa atuando em Belo Horizonte há alguns anos.Cônsul de Poetas del mundo,Ativista da Paz,Psicóloga,Poetisa,Mulher,Mãe:
A Ponte (*****)
Ponte espelhada
reflexos
O Outro e o Eu
Transvergentes
Transmutantes
Transmudados
Plena Travessia
Transversia
Transversia
Ver Só Poesia
Verso/poesia
Dois côncavos
duas curvas
cada pedaço
ao outro pedaço
Um só cor/ação
em uníssono
A cor
a ponte
a travessia
o Outro
o Eu
o espelho
de duas faces
(Clevane Pessoa )
Pensemos nesta poesia ponte como a operação dialética que coloca em crise a dimensão narcísica da ética hegemônica.Pensemos num sujeito em crise,em ambígua suspensão de certezas,instável.No momento da travessia incorpora à sua condição de sujeito,um outro,vários outros também sujeitos.Fala como mulher sendo homem,como criança sendo adulto,como indígena sendo branco europeu .Panteísmo pós moderno de múltiplas faces,de múltiplas enunciações do gozo e da dor,do sublime e do grotesco,da ordem e do caos...Entendo que a Lírica contemporânea traduz este cisma que rompe com o abismo entre o sujeito e o outro sujeito quebrantando este maniqueismo da dialética binária que conhecemos até hoje.Vejamos Bhabha:"... as duas formas de identificação associadas com o imaginário- o narcisismo e a agressividade são precisamente essas duas formas de identificação que constituem a estratégia dominante do poder colonial exercida em relação ao estereótipo que,como uma forma de crença múltipla e contraditória,reconhece a diferença e simultaneamente recusa ou mascara como a fase do espelho,a completude"do estereótipo-sua imagem enquanto identidade-está sempre ameaçada pela"falta"(Bhabha,data,pág:112)
Se a diáspora pós colonial colocou em crise uma lírica que espelhava o tradicional de um discurso religioso(santinhas martirizadas em Cecília Meireles,a palidez da morte em Henriqueta Lisboa,em lugar do desejo) em Clevane,como em algumas poetisas líricas deste século vemos o agasalhamento do orgiástico,desta outridade que vem como grito de vida .Aqui não há o mascaramento ou a recusa deste outro,seja através do rito sacrificial da morte heróica(santinhas cristãs) ou simbólica-o índio cavalhereisco de José de Alencar.
Vejamos mais:
Perplexidades
O poeta partiu o pomo da Paz
e sentiu o gosto de sangue
ao provar a polpa
Porque precisam
de sangrentas guerras
conflitos e contendas
para pacificar o mundo?
Porque a geração do futuro
É mandada a combate
Ou se o jovem voltar inteiro
tem a mente fragmentada?
Para que guerrear?
"A menudo"(título do poema que vem a seguir, na coletânea de referência).
(Clevane Pessoa)
Aqui a fragmentação como recusa,mascaramento do outro,anulado como existência e presentificado como sangue,reafirma a modernidade desta lírica inscrevendo a alteridade como possibilidade orgiástica,eros,em confrontação com thanatos,poder perene de força civilizatória,permanência.Como psicóloga que é, supera a vocação intelectual para a sublimação trágica e plana docemente no convite de Marcuse:Eros e Civilização ,sempre.Pensemos em Benjamin.
"Os gregos foram obrigados,pelo estágio de sua técnica,a produzir valores eternos"
(Benjamin,data,pág:175)
Vejamos o acerto possível desta ironia.Não podemos,a não ser por um conceito de eternidade,alcançar a consecução de permanência em termos de arte,se não tivermos a possibilidade hodierna de reproduzir tecnicamente uma obra.Mas um conceito de eternidade pressupõe a perpetuação do mesmo.Eternos a que preço ó Deus? Se a instabilidade em que nos situa o conflito coloca nossas identidades em trânsito,em agônica percepção desta falta que nos faz entrever a plenitude como devir,onde se inscreve uma possível lírica nos dias de hoje?Talvez neste espaço heróico de denegação do crime contra a vida em nome da vida.Na afirmação categórica deste Eros que era negado às nossas avós para toda a transcendência lírica de uma Cecília,ou para os afetos delicados de Safo,isolada do mundo dentro de uma escola.
Vejamos mais:
CRETA(******)
Decifro-te
mensagem secreta
e invisível em minha pele
escrita com ácido limão
Ardente o sol cáustico
do preconceito
conheço-te os signos
e signais
codificados.
Alpha e Aleph,
dragão com asas de cristais
e flor de fogo
Decifro-me
depois de tecer-te
no tear das fadas
depois de devorar-te,
arte dos deuses
Decifro-te após devorar-me
tecer-me
abastecer-me
com novelos de Ariadne
e noe encontrarmos no labirinto
para vencer o Minotauro
Doce vertigem para além da "teia iluminadora da razão",como diria Ruth Silviano Brandão ,a respeito da clareza pré socrática de Heráclito,invertor de logus,invenção de homens.Aqui o que é menos claro é este sol cáustico e instrumento de sombra,conceito pré-estabelecido Aqui,o segredo é desvendaddo como subversão,como denúncia de estigma desvendado no altar dos Deuses no momento mesmo da devoração.Desmascaramento do poder devastador,ácido,que a secreta mensagem do discurso oficial traz.Vencer o Minotauro atravessando os enigmas que os labirintos de um poder iniciático representam quando este poder se enuncia de um discurso hegemônico Creta revisitada . Bem,esta possibilidade lírica que traduz a trágica fragmentação do sujeito hodierno neste sério convite ao apelo de Eros como história,estóica superação da dor diante da trágica realidade das doenças contemporâneas,do 11 de Setembro,se me afigura uma imponderável,indizível possibilidade de lírica moderna,compreendida como imersão no abismo de possibilidades que o heroísmo traz diante da ancestral repetição de um mesmo modelo de história que renova o arcaico de formas múltiplas.Vamos supor que o poeta contemporâneo seja como o etnógrafo que se perde em busca deste outro que o assedia a tal ponto de não perceber que não alcançou visibilidade.E que a delicadeza poética desta viagem se perca por uma questão de linguagem . Vejamos Strauss:
" O riso trágico que espreita sempre o etnógrafo,lançado neste empreendimento de identificação,é o de ser vítima de um mal-entendido;quer dizer qua a apreensão subjetiva que ela alcançou não apresenta nenhum ponto comum com a do indigena,a não ser a sua própria subjetividade(Strauss,data,pág:168)
Este lugar do outro,espaço de auteridade circunscrito apenas ao sujeito que o ocupa,invadido por uma possibilidade de linguagem que faz da poesia a sua hipótese,arrisca-se a se inscrever nesta modernidade como risco trágico e comovente de uma possibilidade duradoura,perene."
(...)
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(*) Helenice Maria ´Reis Rocha, conforme conta, na mesma antologia que cito, estudou música dos sete aos vinte e oito anos e teve como Mestres, além do pai Aluisio Rocha, que tocava Harmônica de Boca (gaita) e fez sua iniciação e provocação musical contínua , também músico, Nelson Piló e Walter Alves- o primeiro , assistente de Villa Lobos e Radamés Gnatalli.
Na UFMG, onde graduou-se em Letras, apresentou como a dissertação de Mestrado , " Sinais de Oralidade:a trasnfiguração da Voz em Cobra Norato"(**).Em Congressos, apresentou vários trabalhos, inclusive "Os Arquétipos femininos na Poesia de Ana Miranda".
Recentemente, integrou a antologia "Nós da poesia", que foi lançada na XIC Bienal do livro(Rio de Janeiro), pela Editora All Printe, selo IMEL (***) .
(***)Instituto Brasileito de Culturas Internacionais-Organização de Brenda Mars(****).
De Helenice
(**) Conhecido livro de Raul Bopp.
(****)Brenda Mars:Brenda Marques Pena , jornalista , autora de Poesia Sonora.
(*****)A Ponte não faz parte da coletânea cita acima.O poeta Marco Llobus fez com ele um poster, que distribuí a amigos.
(******)Creta,meu poema que saiu em outras antologias, inclusive em uma da ALBA e está em diversos sites e blogs.
Um dos poemas de Helenice Reis Rocha:
ANJO,MEU LINDO ANJO
Helenice Rocha
miguel,meu anjo lindo
me ensina a tua peleja
aqui atrás destes montes,já se foram os pastores
já não fazem romaria,os pastores desta aldeia
seu coração é abrigo de todas estas marias
se as antigas sesmarias temem a sua espada
eu quero só o consolo de pelejar junto a ti
multiplicando as sementes que jogas nestes jardins
não sei onde estão os pastores,já não fazem romaria
conheço apenas as mágoas que tornam meu canto tão só
conheço apenas as dores que alimentam minha voz
vem aqui,meu anjo lindo.toma café comigo
se te serve de consolo,lembrarei sempre de ti
quando os pastos destes ermos me fizerem avó
lembrarei sempre de ti
a ensinar as meninas a trabalhar a poeira
a tirar a do barro o cantil
para guardar esta água que me batiza o silêncio
quando não falas comigo
se permitires morro jovem empunhando junto de ti
as armas da tua peleja
quando ainda jovem em flor
salvastes tantas vidas
só por causa deste amor de anjo
esta mariazinha entendeu o que é amor
Mais em :http://poietisa.blogspot.com/2008/06/helenice-reis-rocha-sobre-seu-anjo.html
icadas por Marco LLobu, poeta, fotógrafo e presidente da rede catitu.
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