terça-feira, 10 de junho de 2008

João Cabral de Melo Neto para Murilo Mendes

João Cabral de Melo Neto para Murilo Mendes

ClevanePessoa(*)

O poema abaixo, primor e inventiva, entre as mil invenções dizer poético sobre o encontro amoroso,sai das palavras precisas e algóricas de João Cabral de Melo Neto, Poeta maior,para Murilo Mendes.Penso-me se haveria no primeiro a clara intenção de homenagear o segundo, ao iniciar o poema, ou se intenção surgiu ao ler-se e deparar-se com paralelas murilianas...
Em Juiz de Fora, jovem repórter e crítica literária, eu vivia a ler A Idade do Serrote porque a inusitada e saborosa prosa poética de Murilo encantava-me.Já no Jornal Urgente, tablóide onde meu primeiro marido, o jornalista e poeta Messias da Rocha,divertia-se ao escrever com ironia ou charge e assim driblar a Censura, eu mantinha, seriamente, uma coluna horizontal de resenhas.Certa feita, escrevi sobre Murilo ("Murilo Mineiro Mendes", o título do artigo) e publiquei ao lado um poema do poeta Roberto Medeiros, que pertencia, como eu ao NUME(Núcleo Mineiro de Escritores) e à UBT, que eu presidia, um poema para a poetisa portuguesa Maria da Saudade Cortesão (o nome próprio, um poema), mulher de Murilo.
Mais tarde, já estudante de Psicologia, no CES, relia cada frase muriliana com a interpretação já sob a influência psicanalista.As suas histórias de parentes são insuperáveis, as metáforas ,originais entre originais...
De João Cabral de Melo Neto, seu Quaderna também mexia furiosamente mas silenciosamente com a minha calada alminha em gritos. Impressionou-me, entre outras montagens, uma do Grupo Divulgação-se não me falha a memória cansada de andanças- do Morte e Vida Severina.A rede onde o morto era cantado e dissecado verbalmente, junto às análises sócio-poéticas,permanece também em minha memória, junto com os versos.
Quando somos ou estamos jovens, tudo apresenta-se com um sabor de ambrosia e provamos licores, maná dos deuses. tampamos o nariz aos cheiros desagradáveis, mas continuamos a insistir.Mais velhos, carregamos esse jovem que nos viveu,na rede de nossas vivências atuais,e acreditamos que chegaremos a algum lugar, para salvá-lo, meio sem coragem de verificarmos se nosso jovem interior ainda está vivo.Algo em nós nos impede de ver se a juventude morreu.Porque nesse caso, teríamos de parar com a procissão de amigos e acompanhantes e perdermos um pouco do tempo que nos resta,para enterrar os sonhos...

Clevane Pessoa de Araújo Poeta honoris causa pelo CBLP para oito países lusófonos pelo CBLP.

Eis o poema de um poeta a outro, igualmente grande:


A MULHER E A CASA

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.


João Cabral de Melo Neto: Quaderna, 1956-1959.
Dedicado a Murilo Mendes.
In Poesias Completas: 1940-1965. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975

Quaderna, de João Ca-bral
de Me-lo Ne-to
a perfeita cadência
contida no próprio nome,nordestino,
mexia furiosa/mente
mas silenciosa
mente com a minha calada
alminha em gritos.
Morte e Vida Severina:
morte e vida da menina,
que fui-serei
jovem mulher boquiaberta
ante o Chumbo daqueles anos.

A Idade de Serrote,
de Murilo (Mineiro) Mendes,
serrava minhas resistências acadêmicas
restantes e condicionadas
e produzia
aparas de Poesia...
Descobri resiliências e resisti...

Clevane Pessoa de araújo lopes

Mini bio:
Clevane Pessoa de Araújo Lopes, nordestina de S.José de Mipibu, RN, mora em Minas Gerais desde a infância, tendo retornado à capital mineiro depois de dez anos no NE(S.Luiz, Maranhão) e N( Belém,Pará).
É psicóloga, tendo estudado no CES em Juiz de Fora até ao oitavo período.Por motvo de enlace, com o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva, mudou-se para Belo Horizonte e concluiu o curso na FUMEC.
Escreve desde a infância e poesia a partir dos dez anos de idade.Palestrista, oficineira, em temas literários ou de psicologia, é desenhista e gosta da beleza-em todas as suas fontes vertentes.
Embaixadora universal da paz (Cercle Univ.de Les embassadeurs de la Paix-genebra, Suiça), poeta Honoris causa pelo CBLP,para oito países Lusófonos, Patroness da AVSPE, Diretora regional do inBrasCi em Belo Horizonte,Integra a rede Catitu na Núcleo de Entrevistas Clevane Pessoa entre Pessoas,é Representante do Movimento Cultural aBrace (Uruguai Brasil), na capital mineira e é Delegada da ALPAS XXI por MG e bahia.Pertence á Academia de Trovas do RN desde 1968 e a outras academias literárias , na qualidade de Memebro Correspondente.Nos Anos 60/70,foi nomeada Delegada Ad Honoren," com todas as honras de representação distinguida", do Instituto de Cultura Americana,registro 5041-França, Paris, UNESCO, pela filial do Uruguai e da ARIEL (Associação de Livres Pensadores), pela filial de Portugal.Graças a esse dois últimos cargos, forneceu cartas de apresentação a artistas e poetas brasileiros,que dessa forma, escaparam da Ditadura Militar e puderam sair do País.
É mãe de Cleanton Alessandro (Allez pessoa, contrabaixista e desenhista e Gabriel (massoterapeuta),viúva de Eduardo Lopes da Silva.

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