sábado, 17 de janeiro de 2009

Mestre Conga e Jadir Ambrósio:samba é com eles mesmos



Imagem:mestre Conga no surdão(arquivo Alessandro)Texto de Clevane Pessoa Lopes, para encarte CD(setembro,2006,após entrevista)

MESTRE CONGA

José Luiz Lourenço,-o Mestre Conga-oriundo de Ponte Nova,cidade mineira,ainda criança,é a história viva do samba em Belo Horizonte.Participou ,mocinho ainda,dos primórdios das escolas de samba,que originaram,de maneira direta ou indireta, as atuais.Agora,octogenário,faz parte,na UFMG,da Faculdade do Samba,onde a velha guarda busca ensinar às novas gerações,as manhas do ritmo.
Figura bastante marcante,possui memória invejável,nomeando pessoais e datando acontecimentos com precisão.Seu apelido foi-lhe dado por colegas do Grupo Escolar Flávio dos Santos,quando participava,com o irmão,Oswaldo Luiz, da Guarda de Conga N.Sra.do Rosário,que era coordenada por “Antonio Grande: tinham de amarrar latinhas de massa de tomate nas pernas,para conseguir a necessária percussãoOs colegas,quando apareciam,apontavam:”olha os Congas”....Também foi essa iniciação que gerou nele o gosto pela dança,uma paixão,pelo público em redor,uma necessidade.
Mestre Conga gostava muito dessa atividade,desempenhada depois que iam para o serviço do pai,braçal,na lavoura.Conta que a mãe era dona de casa,ambos analfabetos.Dançavam o congado,habituando-se aos espectadores,que ficavam espiando a função.Ele fazia os passos,agachando e levantando.”A Conga,conta-me o mestre,música oriunda da América Central”foi proibida durante a Ditadura”-como tudo que estava relacionado a Cuba..Dançava como vassalo e no início, era acompanhado quase por toda a sua família,tios primos,restando por fim,o irmão e ele.O pai não gostava da Conga e sim de “dançar,ao som de sanfoninha de oito baixos”.Um dia,Seo Antônio,o capitão da Guarda,aborrecido com o adolescente,mandou-o para casa descansar.Ele não voltou mais.
Com treze para catorze anos,jogava futebol,em times que eles mesmos,da comunidade,formavam.Com a elasticidade adquirida na dança,por certo levava bem a bola.Logo,passou a se interessar por dança de salão,no Rádio Dançante Clube.Esmerava-se de segunda a sexta-feira, das 20 às 23 horas,mas ele e os amigos,não podiam freqüentar os bailes de domingo,por serem “de menor”.
Com quase dezessete anos,perde o pai.A mãe não consegue ter a mesma autoridade e dá mais liberdade aos jovens.No barro preto,havia um clube chamado “Original do Barro preto”freqüentado por pessoas mais escuras e humildes,conta.Havia outra casa dessa ,o “Original de Santa Efigênia”.
Nos Anos Quarenta,logo após a II Grande Guerra Mundial,sai na Bateria da escola de Samba “Surpresa”,que funcionava onde depois se instalou o Sindicato dos Tecelões em Belo Horizonte:
-“Ensaiávamos lá mesmo,no miolo da pedreira,à luz de lamparinas,já que não havia como usar eletricidade.”
Foi nesse local que surgiu a Primeira escola de samba da capital,fundada por Popó e Chuchu(1938).Popó era Mário Januário da Silva.Chuchu,José Dionísio de Oliveira.Antigamanete,denominados “Maiorais”.Mestre Conga fala sorridente e brandamente,com precisão,faz questão de nomear as pessoas.Na verdade,é a história viva do samba belorizontino ,legítima testemunha de todas essas décadas.Mestre Conga,fiel à verdade,diz que ,apesar de jamais ter sido componente da “Surpresa”,acompanhou-a muito,nas batalhas de confete,tão usadas na época.
A “Surpresa” era uma remanescente da “Escola de Samba Pedreira Unida”.Posteriormente,houve uma cisão entre Popó e Chuchu,”um racha”,explica.Popó,que era pandeirista da rádio Inconfidência, então,criou,na Barroca,bairro da capital,sua própria escola e,”por gozação,ou para irritar”,chamou-a de “Escola Primeira de Samba”.Chuchu,por sua vez,era tamborinista da Rádio Guarani.Os dois tocaram com muita gente famosa em sua época, como Geraldo Tavares,o Cancioneiro,Paulo César de Aguiar.
O jovem Mestre Conga,então volta para a gafieira.Nessa altura,ganhava a vida como sapateiro.Conta que afetou a vista direita, numa fábrica de calçados,ao colocar um rolo de arame em uma grampeadora .
Adora dançar desde mocinho dançar.Rememora sempre os conhecidos de sua época.
Nessa ocasião,conheceu uma grande sambista,que representou,para o samba da capital mineira,o que Tia Ciata foi para o samba do Rio de Janeiro.D.Lourdes Maria de Souza,conhecida como ”Lourdes Bocão”,mãe do “Nenê da Bateria”.Até hoje,aos noventa e quatro anos de idade,ela ainda sai na “Inconfidência Mineira”. Na gafieira, conheceu Plínio Saxofonista e Zé Luiz do Trombone,entre outros.Já do pessoal das rádios,a partir de 1958,conheceu Rui Martins,Maestro Ofir Mendes,o pandeirista e compositor Jair Silva,o Maestro da Rádio Inconfidência Moacir Pontes,o Maestro Dele(José Brás de Oliveira),já falecidos.Cita tr se encontrado,no Rio de janeiro,o maestro e pianista Guio de Moraes ,fala de Jadir Ambrósio,compositor.
Mestre Conga começa então a compor.Explica que ,à época,compunha-se apenas um verso,numa espécie de mote e os demais iam atrás,improvisando versos.A roda de samba era o que hoje chamam de pagode,acentua.
Da gafieira,através dos companheiros passistas,de escola de samba,em 1946,estreou na Surpresa,a cita remanescente da Pedreira Unida.Fazia seus próprios instrumentos,e por certo a profissão de sapateiro o ajudou a criar seus próprios tamborins.”Era jovem,dezessete anos,gostava de desfilar.”Em 1947,por motivos de paixão por alguém,deixou-se levar por um “Maioral” um fundador da Escola de Samba Remodelação da Floresta”,Ildeu Amaral da Silva.Nessa época, muita boa,teve início “verdadeiramente,a amor pelo samba.”
Dois concursos o marcaram muito, o da “Rainha do samba”,promovido pela Rádio Inconfidência,e o Concurso “Cidadão do Samba”,promoção dos Diários Associados,Estado de Minas,Diário da tarde e Rádio Guarani.Foram o “ponto alto” do carnaval deBelô.Em 1948 com pouco menos de 21 anos,foi o ganhador-e como cidadão do samba,”não parou mais”.Samba-enredo,algo mais elaborado,teve início,na capital mineira, de 1956 para cá.Então,passou a escrever letras mais completas.Sua Escola, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Inconfidência,para ele “muito querida,é a mais antiga, a mais pobrezinha”,afirma.Resulta de uma cisão da “Remodelação da Floresta”:ele,companheiros como Lourdes Bocão,Fefeu.Cici,Arroz,Severino,Silvio Porciano,Amintas,Alírio de Paula,além de familiares também engajados na nova escola,ensaiam até hoje,no terreiro de sua casa,no bairro Concórdia.
A partir daí,tomou gosto em escrever o samba de uma estrofe,improvisando o restante da composição, desse ano em diante(1956)-“Agora,a escola de samba deve apresentar sambas enredos inteiros,com alegorias”,explica.
Para Mestre Conga, o auge do carnaval na capital mineira,aconteceu na gestão do Prefeito Maurício Campos.O último bem administrado,foi na do prefeito Ferrara,em sua opinião.Agora,acredita que o desfile vai melhorar,com a promessa do sambródomo.
Gosta de todos os seus sambas,mas acredita ser o mais bonito um chamado “A Saga dos Índios na Terra das Gerais,que está para ser gravado pelo pessoal da “Faculdade do Samba”,que reúne a Velha Guarda na UFMG.Mestre Conga também acontece nos saraus do centro Cultural S.Bernardo(Lagoa do Nado).E sempre está proto para apresentações.
Este jovem octogenário,gosta do samba porque ele o mantém,”em movimento”e da confraria a que pertence,a de S. Vicente de Paula”.Claro,de futebol e de arte afro.Também sai todos os dias e cita :”melhor andar à toa,do que ficar à toa”,uma ds máximas de seu pai..
Para o carnaval de 2006,concorre com um samba-enredo, chamado “Petrobrás,Um Sonho Que Deu certo”.Diz que o é preciso sonhar:”O cidadão,o ser humano que pensa e tem um pouco de vaidade,está sempre sonhando”.Sente-se grato pelo projeto aprovado:”Veio como um presente de Deus,que inspirou ao Júlio César Coelho Rosa fazer esse projeto,sobre minha pessoa...Eu não esperava que,depois de velho,fosse ser assim útil,para ele ganhar a aprovação.Fico lisonjeado e satisfeito.Fui criado em família muito humilde e mesmo tendo perdido meu pai muito cedo,nem por isso me prostituí ou marginalizei.Chegando aos setenta e oito anos,pretendo encerrar a vida da maneira como sempre fui e sou:embora simples,tenho dentro de mim a vaidade que simboliza a auto-estima”.
Mestre Conga recebeu o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte,agraciado pelo “saudoso vereador Francisco Alves,depois Secretário de admnistração da capital mineira”.Pensa que,de seus momentos inesquecíveis,ter sido eleito “Cidadão do Samba”,em 1948,foi o momento mais significativo:”Me senti quase como um imperador”,entrega.Quandoa escola logra os primeiros lugares, a emoção é enorme,muita alegria,espera que ainda alcance novamente essa colocação.
Esse eterno “ Cidadão do Samba,de Belo Horizonte,posando ,no Palácio das Artes,para uma sessão de fotos,satisfeito e natural,revela no brilho dos olhos, que valeu a pena a espera pelo reconhecimento de sua trajetória.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Escritora e psicóloga
(01/09/2005)



Texto resultante da entrevista,que aconteceu no Palácio das Artes,sem nenhum sinal de cansaço pelo velho sambista.Quando nos despedimos na porta,ele seguiu e ao atravessar a Av. Afonso Pena,virei-me para olhá-lo.Andava lépido,como se dançasse,como se ouvisse música...
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte,05/08/2005



13/09/2005 20h26

MEU ENCONTRO COM JADIR AMBRÓSIO

Em 27 de junho de 2006

Há pouco tempo,no evento Poesia Abraça a música,que reúniu no Teatro Chico Nunes,37 músicos,musicistas e poeta,declamadores e performáticos, conheci Jadir Ambrósio.

Deu-se que peguei um táxi e cheguei ao Parque Municipal, onde se situa o referido teatro Francisco Nunes.
Pelo portão que dá para a Av Afonso Pena, entrou perto de mim, uma leva bem variada de pessoas, de várias idades,pois escolas mandaram seus adolescentes.
Ao descer a rampa, vi os que esperavam por algo ou alguém e, pelos vidros do hall, os que lá estavam.Fiquei por uns momentos breves,sem saber como proceder,pois ia me apresentar e sempre fôra lá como expectadora ou representando a Casa da Criança e do Adolescente,que coordenava,no HJK.Perguntei pela entrada dos artistas e o Jadir ,que já havia feito o mesmo,andou ligeiramente atrás de mim.Descemos a rampa e virei-me para conversar com ele.Negro alto e elegante,de cabelhos em capulhos de algodão,sorriso aberto.
Contou-me que seu acompanhante não viera,por isso,nãoia poder se apresentar."Que pena",eu disse,com tantos músicos,um deles não o acompanharia?"Ele se espantou.explicando que é preciso ensaiar.O que bem sei,pois sou mãe de músico e sei a importância da perfeita harmonia entre os músicos ,para os números apresentados...
Nos bastidores,camarins e coxias,todos os procuravam.
Eu andava a ver conhecidos e num momento,aproximei-me ,a tempo de vê-lo,bem baixinho,enquanto dava seus passos,cantar uma das músicas que defende.
Em vez de irritar-se acintosamente,se ficou frustrado por não aprecer para o grande público,Jadir Ambrósio tratou foi de proceder conforme a sua essência:ser artista.E o aplaudimos sem fazer barulho,o que fez brotar um grande sorriso no seu rosto quase sem rugas.
Benditos sambistas!
Quem puder,vá vê-los,Jadir Ambrósio,e Mestre Conga,conforme salienta Aécio cunha:da seara do samba mineiro(19/07) no Teatro da Biblioteca municipal.às vinte horas,sempre ás quartas feiras,como também aos demais artistas...


13/09/2005 20h26
Mestre Conga,Press release
Mestre Conga
◊◊ Press Release ◊◊

A Petrobrás, entre muitos outros projetos, escolheu o de Júlio César Coelho Rosa, que visa promover a história do mineiro José Luiz Lourenço, mais conhecido como Mestre Conga.O apelido, o sambista traz da infância, quando pertencia a uma Guarda de Conga. O autor do cito projeto visa resgatar, através da própria história desse personagem, a história do Samba e do Carnaval de Belo Horizonte.
Oriundo de Ponte Nova,nascido em 1927 onde o pai era lavrador, cedo Mestre Conga, sempre fascinado pelo ritmo, entrosou-se às gafieiras e posteriormente às escolas de samba.
Em 1948,o jovem artista recebe o título de Cidadão do Samba, que até hoje, lhe cai como uma luva. O concurso,um dos pontos altos do carnaval da época,era promovido pelos Diários Associados:jornais Estado de Minas,Diário da Tarde e Rádio Guarani,contraposto ao da Rainha do Samba,organizado pela Rádio Inconfidência.
Como exerce a profissão de sapateiro, quando convidado para integrar os percussionistas da Escola de Samba “Surpresa”,como tamborinista,ele próprio confecciona seu instrumento.
Mestre Conga narra que os samba-enredos eram feitos coletivamente: fazia-se um mote,cujos versos, nas rodas de samba, segundo ele, a mesma coisa que os “pagodes” de hoje, eram seguidos pelos compositores. O “samba de estrofe”, somente teve lugar “de 1956 para cá, explica”.
Lépido, sorridente,dono de memória privilegiada,faz parte, com outros veteranoas,da Faculdade do Samba da UFMG. Sua escola atual é a “Grêmio Recreativo Escola de Samba Inconfidência”, cujos ensaios acontecem no terreiro de sua casa.
Mestre Conga terá, como ponto alto do projeto, o lançamento do Cd “Decantando em Samba”.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
(dados obtidos em entrevista)
Publicado por clevane pessoa de araújo em 27/06/2006 às 12h15
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