sábado, 23 de agosto de 2008

Elis e sua época (I)


Elis e sua época

Elis Regina,Memorial




Numa época em que os jovens eram muito apaixonados por seu País sob o jugo ditatorial, queríamos valorizar nossas coisas .Lembro-me de que não queríamos usarar camisetas com algo escrito em inglês.Pedi a meu mano Nildo, artista plástico, então adolescente, que pintasse minhas roupas.Recordo especialmente de uma batinha de chambray , onde ele desenhou e pintou gaivotas e abaixo escreveu a nomeação indígena:"ati-ati".
Quando somos jovens, seguimos , muitas vezes, os prmeiros impulsos.Nem sempre os mais sensatos.
na vida de Elis ocorreram uns episódios no mínimo, interessantes .Sua biografia é cheia de "pimentices".A artista, considerada "O Furacão Elis" e a "Pimentinha ,resolvida a lutar para manter o status quo da MPB, manifestando-se contra a influência estrangeira emnossa música, simbolizada pelo uso das guitarras , que entravam na moda.Liderou a famosa "Marcha Contra as Guitarras" e ganhou inimogos.Havia muitos músicos dispostos a renovar a MPB.Ela estrava com seus , pois corria o ano de 1967.

Anos depois, Elis estava na Europa, agora bem mais madura e dá a declaração de que o Brasil era governado por "Gorilas".Pagou um alto preço para ter direito de retornar a nosso país:para voltar sem ,maiores dificuldades,obedeceu á convocação para cantar...nas olímpíadas do Exército.E mais, gaúcha, teve de apresentar-se, em Caxias do Sul,RS,num show para o então presidente Garrastazu Médici.

Desconforto geral.O pessoal do Pasquim ,em especial o Henfil, fez seu enterro simbólico, no chamado "Cemitério dos Mortos-Vivos", do famosos tablóide de oposição.
Mais tarde, Elis Regina reconcilia-se com o famoso cartunista e faz todo mundo chorar qundo canta "O Bêbado e o Equilibrista", onde trina:

"(...)A volta do irmão do Henfil,de tanta gente que partiu,./num rabo de foguete?".
A música, de 1979, é de autoria de João Bosco e Aldir Blanc.Tornou-se um hino,uma das peças-de-resit~encia de quem queria a Democracia de retorno, junto a "para não dizer que não falei das flores, de vandré e outras ainda hoje cantadas.
Na voz forte e maviosa de Elis,e sua interpretação singular, mesmo após sua morte, esteve presente.

No show "Canta Brasil",que aconteceu em 7 de fevereiro de 1982, em São Paulo,reunidos os artistas enganjados nos movimentos de redemocratização, de anistia, onde estavam, simone, com Chico Buarque, Milton Nascimento, Clara Nunes, Gonzaquinha e outros.Um ato de coragem .A multidão em peso acompanhou Simone, quando ela, emocionada, cantou, com sua bela voz,a música de Geraldo Vandré, vítima de torturas,(a cita "Pra Não Dizer que Falei das Flores")...O show, uma referência a atos contra a ditadura .Elis passara para outradimensão a menos de um mês e o espetáculo, espontaneamente, fechou com os cantores e as pessoas presentes a cantar “O bêbado e o equilibrista”,com punhos cerrados lançados ao ar, as vozes emocionadas, lembravam a cantora, intérprete de várias canções corajosas, cujos versos, codificados, foram metáforas e libelos contra os Anos de Chumbo,a opressão, as torturas, ou para criticar a classe dominante...Não só de nossos compositores,mas também de outros países, qual Los hermanos, interpretada por Mercedes Soza.

A perplexidade dos jovens, das novas gerações, seus conflitos com os donos do status quo, do poder, muitas vezes seus pais ou parentes, contra os quais se insurgiam , no sofrimento das ambíguas mas necessárias atitudes.Quanta luta interior, para desvencilharem-se das velharias e inoportunos comportamentos dos mais velhos (algo firmado qual na alegoria "Não confie em Ninguém com Mais de Trinta anos").Era a época dos conflitos,das rupturas, dos ídolos de pés de barro teremde ser derrubados,fragmentados.

Algumas dessas músicas interpretadas por Elis Regina:

"Como Nossos pais, de Belchior (cantada no show Falso Brilhante, em 1976);
“Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola
“Deus lhe pague”, de Chico Buarque (Transversal do Tempo, 1978);
“Alô, Alô Marciano”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho;
“Maria Maria” e “Canção da América”, ambas dos mineiros Milton Nascimento e Fernando Brant ;
“Aos Nossos Filhos”, de Ivan Lins e Vitor Martins (do disco Saudades do Brasil,de 1980).

Se a "Parada contra as guitarras" foi uma atitude extremada de pessoas jovem ,embora com a motivação calcada na brasilidade que marcava os jovens da época, a Elis Regina madura teve ,na carreira, embutida a luta pela anistia, pelo retorno à democracia.

E essas gravações viraram cult, símbolo.Há uns anos, estive em Belém , na Comunidade de emaús, para fazer um trabalho no projeto ""Saúde em Comunidade", encampada pela Kellog e coordenada pela hebiatra Maria da conceição de Oliveira Costa.O tema central era Liderança e portagonismo na adolesc~encia e tantos os jovens quanto os educadores, tinham aulas semelhantes, em horários diferentes.

Conceição e eu selecionamos muitas dessas canções que tocam os jovens .Eles adoram"Caçador de Mim , interpretada por Milton Nascimento(e aqui lembramos que "Bituca", outra voz única,mineirim , foi lançado por ela, por quem nutre ainda hoje, a grande paixão das almas acima da terra cotidiana) .Cantamos e expressamos as citas,e quase sempre, pois as questões do gênero feminino estavam sempre nos temas diretos ou transversais,o cursos era encerrado com "Maria , Maria" E a emoção atonava, chorávamos e nos abraçávamos.

Para os que se lembram ainda do episódio contra as guitarras, sugiro apenas que se lembrem de duas coisas;ela era jovem impetuosa...e depois, sobejamente, redimiu-se.


Por clevane pessoa de araújo em 20/01/2007 às 11h18

Belo Horizonte, MG
asasdeborboleta@gmail.com
Publicado,originalmente, no Recanto das Letras

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