quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Luiz Carlos Rufo - trecho de "A beleza das eudoras"


Naquele dia a cor pastosa do amarelo inerente, quase às barras de pano depositadas em desalinho sobre a chaise-longue, trepidava. Rubina dizia sem olhar seu interlocutor que tal cadeira surgira já nos anos finais do século XVII e que permitem, de maneira singular, estender as pernas, alastrando-se, podendo-se unir, para isso, 2 ou 3 assentos. Percebi, despojados aqueles panos de seu verdadeiro valor sobre o balcão, o que intrigou-me. Era ela. Era uma roupa. Ela gosta de guitarristas e é esquia. Era uma borda de céu. Era um pedaço visível dela. Acho que sempre ela será magra.

O sol do dia repetia incessantemente condições de luz e sombra no ambiente; o que fazer diante de tanta reverberação? Ela declama olhando a janela, depois dá pulinhos. Acho mimoso isso. Ela acredita e é honesta em praticar:

Não quero trabalho;

Não quero cigarro;

Não quero carro;

Vivo meus pés!

Eu pintará sem encontrar o que em mim era tão natural, e em um tempo tão extenso que me desconheci sem compreender aquele comprimento de onda que faz parte dos espectros visíveis, capaz de produzir no olho uma sensação característica, mesmo sendo todas as tonalidades pendentes para o amarelo. Ela tem os cabelos escorridos como os de uma égua que conheci um dia. Vão escorrendo, deixando as pontas das orelhas a amostra, até sumirem em poucos fios.

Com a impressão cansada daquele amanhecer, refleti na feitura de um café reparador, minha única esperança até então. Ela e sua beleza formavam um par. De mãos dadas mas não únicas. Como se fluíssem de fontes diferentes e por um único motivo secreto encontravam-se, uniam-se, formando aquilo em que em mim doía. Sempre cheirando a qualidade, destacando-me nas propriedades e no que havia aprisionado dela. Ela de um caráter arrebatador, sempre simples, me parecia, as vezes, meio menino dos excertos romanos, comendo aquele pão com manteiga sobre o balcão da padaria (aquilo eram modos?) e falando, sempre ao mesmo tempo. Um jeito de cair dos cabelos, um vítreo de seu olhar claro. Rubina, essa seria uma virtude do que é belo? Pois a beleza é maléfica, eu sei. O doce é uma manifestação característica do belo, doado. O caráter do ser que porta, por castigo, a beleza é, ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, pura admiração ou prazer medonho de calor e arrepios, de ardor de um logo tapa. Ela, que bela, através de sensações visuais me encanta, salivo em ondas gustativas; Mozart em aulas auditivas; os "Peixes" minhas pinturas, suscitam a admiração e deslumbram-se em olfativas: hum, hum, hum.

Os sentidos, que se expunham diante da duvida, arriscávamos observando-os em chamados angélicos. Os sentidos químicos dos doces que ela comia, desrespeitando a ordem de seus receptores, eram tão excitados, tão estimulantes, que duvidava não serem arquitetados. Eu sempre repetia para ela, Rubina na superfície de sua língua que minuciosamente explorava reluziam dezenas de papilas, queria de perto aqueles alimentos do ar. Esses sentidos deixava-os trabalharem em prol de minhas poesias conjuntamente com a percepção de seus sabores ancestrais. Rubina quando fala, declama. Seus gestos estão no centro de meu olfato, sua mão bailava o gosto impresso em meu cérebro iludido, combinando as informações sensoriais, criando, mas tudo não passava de sua língua em meu nariz. Rubina, Rubina!"

Luiz Carlos Rufo - trecho de "A beleza das eudoras"

Luiz Carlos Rufo
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(11)3834-3222 - cel 9982-4261
saiba sobre arte visitando:
http://luizcarlosrufo.blogspot.com/

Quando encontrei o taxto e a imagem , em EXPOARTE(http://www.expoart.com.br/artigos/?idt1=4&idt2=col&idt3=luiz_carlos_rufo), postei logo o recado abaixo;;
14/1/2008 00:09:51 - comentário sobre "Eudoras"
Rubina, feminino de rubi, vermelho-sangue,graal.Parabéns por esse texto sensual,passional e terno a um só tempo. Clevane Pessoa http://www.clevanepessoa.net/blog.php
Postado por: Clevane Pessoa

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